Até 220vv o coração aguenta

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patamares

Afinal é tudo mentira. É um inferno, não são patamares, é veneno que se bebe sabendo que mata e ainda assim pede-se a dependência, a subida, o enlace, o empurrão para a queda, penduro-me em ti com os pés no chão, a consciência que me humaniza condena-me à bestialidade de me encolher aquado na pele deste corredor que se fecha num arco completo a círculos em que te cruzo cadeados de mão.



[VAMOS CAÍR]

Tenho uma vontade louca de entrar e experimentar. Mas os pudores atam-me mãos e gesto, talvez me fique de mãos nos bolsos à espera que me toques leve e incites a sentir temperaturas. Tenho uma vontade louca de te saber quente, não, morna, não quero arder atado. Talvez experimente um leve, leve cingir mas nada de encurralares a minha emoção. Arrisco...




[SOBE? VAMOS PARA O MESMO ANDAR]



Estádios, níveis, elevadores, classificações, apontamentos, corrimão, cerca e varandim, é uma prisão deslumbrante em que o escravo se acaba de amores pelo carcereiro encapuzado na pele do peito, em que o pedinte se despe para vestir o rei e todos os abraços são moeda, não sei se falo de mim, se falo do que me fazes quando me cinges e confinas neste patamar sem néon de exit, sou burguês, gosto de festas e de melodramas com barulho de lágrimas.





[SOBE? PARA QUE ANDAR VAI?]








ecg

portas

A tua boca é a (minha) porta.




Não será preciso bater, do próprio vento a mão invisível que empurra a porta e penetrada na luz o verbo mostrado, adornado, de outras tão nú que cega nas palavras farpadas a crueza do não. Não queres, não voltas, não dizes.

Por esse silêncio o silvo que ensurdece, o que devagar encosta a entrada a muros que se erguem na opacidade do não dizer.

Custa dizer adeus.














Ensinas gostos. Desgosto. Degustas.

Por mais que entre e saia essa porta será sempre a minha surpresa. Não a dos acenos e beijos selados ou a do egoísmo fino que te pede mais uma palavra, um som, um gemer baixo que me entoe na ida o telúrico dos momentos.

Até do fio da saliva te encontro na reticência do pedido que deixas pairado... mas não pedes.

A tua exigência faz-se de adivinhas, um segredo que abra a porta na combinação aperfeiçoada do dizer.

Diz...

Esperas. Eu espero ouvir-te e calo-me pela ofensa que possa macular o que te ouço.

Diz...

Tempo perfeito. Agora. E agora já não é...

Corro no medo de olhar a porta cerrar-se devagar e não voltar a abrir-me o quente do hálito que me aconchega na saudade do corpo.

(Custa dizer adeus)

Dize.

E dizes vem. E eu vou. Ainda num tempo ofegante em que o verbo abre a (tua) porta e eu sou parte dela, das tuas frases, das tuas ordens, o desejo de ser o (teu) desejo.

Digo amor.

E tu pedes-me silêncio... Entra.



















ecg

raízes

Chegaste até aqui, nada se perdeu, enraíza-se a vontade, do costume a singularidade do pisar, impressão indelével, sei-te na partida, não o choro mas escavo saudades à procura.

Há raízes tuas por dentro do universo. O núcleo o meu coração.

[Danças profanas-me]



Fantasio que do teu crescer sou parte comum.


As raízes alastram-se afora. Mesmo que chegue a maré e alise tudo, o peso afundado, a cava do pé, as cinco marcas do coração fica sempre o teu andar. Copio as tuas passadas...



Sigo [te nas raízes e voo]



Linhas imensuráveis. Percorro-as mas não consigo alcançar-te. Não quero. Sei que o convite que fazes é para ser enunciado na presente lembrança do que é teu.


São ensaios?

Pergunta vã.

Pontilhada ou arrastada há sempre marcas, até no titubear da madrugada bebeda a graciosidade dos afagos ensina quem tu és, pé-ante-pé, é um derramar continuado que me obrigam os olhos a contar-te o silêncio evitado ou os ruídos que abafas no adivinhar de quem chega.



És tu?

Pergunta vã.

Conheço-te os trilhos e pergunto. É o gozo do escuro que me põe a sentir-te chegar.



Imensurável: Das léguas que aprofundas na terra-mãe e que em subterrâneos cravas dança, fazes ninho, odoríferas mandrágoras, poiso e plantio, largas rasto, lastro, a quem te seguir nos palmos enraizados a descoberta de linhas no carreiro fino e formiguento da dormência dos passos, levas pantano e areia e ainda solo firme.


Há sempre um ainda, um pouco mais. Exibes alado o que está firme. Adiante abismos, assim é o carácter revelado para quem te [tenta] prender.



ecg
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Arritmias

Onde tudo se pode ler do fim para o céu e do topo para a terra