Até 220vv o coração aguenta

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cegueira (tive medo de olhar)





As mãos eram a venda e as palavras cosidas nos lábios um silêncio dormente. Não eram palavras mortas das que se dizem para encher o espaço de ecos na esperança de que o momento passe sem feridas ou se suavize a dor do confronto na panaceia do som certo.






As palavras eram a venda e as mãos objectos que se expõem para esconder a má pintura ou o estuque do rosto edificado a descascar numa corrosão de sentidos.






Não sei se falaste com as mãos ou se te resguardaste nas palavras.















Só sei que à medida que o tempo imprimiu velocidade às memórias achei-me num sitio escondido por já não existir o presente e eu agora cego, quería ver [-TE]. Foi quando senti esmagado pelas palavras a caricia das tuas mãos nos meus lábios.





Abri os olhos. Corajosamente. Preparado para o choque e feliz de o sentir. As mãos fechadas atingiram-me no olhar e finalmente derramei as palavras que esperaste.




Faltaste tu para as ouvir.

ecg

3 comentários:

AnaMar (pseudónimo) disse...

Volto uma e outra vez, atentar que este(o teu) coração não páre.

Mas escrevo para não sei que olhos, tentando que as palavras reanimem este espaço.

Espero que estejas bem.

Bj de saudade

o Reverso disse...

difícil

espanto

Alberto Oliveira disse...

"é mais cego aquele que não quer ver que aquele que apesar de cego usa óculos para filmes 3D."*

*Anastácio Braille.
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Edmundo,

deixa-me dizer-te que respeito os teus sentimentos. Melhor, a tua dor pela ausência pressentida, de quem não te quis beber as palavras saidas das órbitas com olhos de querer ver.
Um dia - já lá vão uns bons anos, passou-se quase o mesmo comigo. Uma mulher - era linda! como um cego pode imaginar a beleza - fez-me acreditar no amor. Não foram precisas palavras, chegavam-me os gestos. Meus e os dela. Doido de paixão, abri a guarda e quando dei por mim, o meu cão-guia já era...
Quase se pode dizer que somos irmãos no infortúnio: perdemos de vista o amor ou o amor não nos quer ver.
E se fizéssemos uma vaquinha e fôssemos vender lotaria no Rossio?

Abraço do Legível Curto de Vista.

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Arritmias

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