As mãos eram a venda e as palavras cosidas nos lábios um silêncio dormente. Não eram palavras mortas das que se dizem para encher o espaço de ecos na esperança de que o momento passe sem feridas ou se suavize a dor do confronto na panaceia do som certo.
As palavras eram a venda e as mãos objectos que se expõem para esconder a má pintura ou o estuque do rosto edificado a descascar numa corrosão de sentidos.
Não sei se falaste com as mãos ou se te resguardaste nas palavras.

Só sei que à medida que o tempo imprimiu velocidade às memórias achei-me num sitio escondido por já não existir o presente e eu agora cego, quería ver [-TE]. Foi quando senti esmagado pelas palavras a caricia das tuas mãos nos meus lábios.
Abri os olhos. Corajosamente. Preparado para o choque e feliz de o sentir. As mãos fechadas atingiram-me no olhar e finalmente derramei as palavras que esperaste.
Faltaste tu para as ouvir.
ecg