Até 220vv o coração aguenta

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laços





Sei. Está escrito e lacrado. Sei. É segredo. Sabê-lo e guardá-lo dentro de nós sem chaves nem amarras nem correntes nem promessas. Eu sei. Por isso nada dizemos, é tabu. Escrito e lacrado. Ai da lingua se se dobrasse e ao tocar no céu sentisse a humidade da carne provocada pelo caldo das palavras.

Tu sabes. Está sentido e bombeado a carmim na ponta dos dedos [shiuuuuuu]. Tu sabes como sou a sentir este segredo. É tão forte e apertado que me deixa o peito esmagado contra a vontade de gritar. Ai da lingua se se dobrasse e ao tocar no céu lambesse a humidade dos ruídos que engulo provocada pelo [nosso] silêncio.


Ninguém me ensinou, nem a ti. Descobrimos sózinhos a dar nós com a lingua e a ficar mudos quando os dedos partem insanos ao ritmo descompassado do segredo. Lacres. Laços.





Desaprendemos [Como se faz para desfazer um laço feito]




As horas solidificam-se nos nós justos em que deixamos de ser corpo e lingua. São lacres, são segredos sabidos numa convulsão em que nada se pretende aquietado, a promessa é não prometer, assim não comprometemos o tabu e a liberdade do segredo pode sempre ser cumprida ao rigor.





Laço perfeito: O que adivinho nas palavras do segredo é igual ao pacto que silenciamos. Por cada vez que apertas o nó escuto as palavras encostadas ao céu da boca, admiro-as, admiro-me de saber a cor de cor e por as replicar no teu peito como uma caixa de ressonância em que regressam a mim, a ti, um ricochete imparável na ponta do laço.


Aperta [nos]









É tabu, sabemos os dois. A lacre. De sangue.





É meu, é teu. É das palavras atadas que provém o milagre do que sabemos. Já te disse?... [shiuuuu] É segredo, aperta-me mais um pouco junto ao peito, acho que perdi as minhas veias no teu sangue e as palavras da tua boca humedeceram a pele do meu ritmo descompassado num laço invisível que todos chamam...




... Não digas. Aperta-nos mais e sempre, somos sábios de um tabu que não se conta, que não se comenta nem se explica, cristaliza-se na transfusão do que existimos e do que seremos para além de palavras racionadas em folhas brancas ou noites perdidas de bebedeiras vermelhas pelas mesas dos poetas.






Acho que vou gritar agora, que vou dizer ao meu peito que o laço que te junta a ele tem um dom forte, um nó que não aprendemos a fazer e no entanto o fio quente do lacre sela a minha vontade.



[shiuuuu]





Bebes-me os gritos e eu sossego por te sentir em mim.







ecg

6 comentários:

observatory disse...

faz um poema sim

claro

até o pulsar do corpo o é

a melodia em ai :))))))

MagyMay disse...

Laços apertam, desfeitos soltam...e sempre fio pronto para um laço
Lacres unem, quebrando desunem...e nunca mais o mesmo lacre
Segredos cúmplices...e quando não se sossega a vontade de gritar?

Beijo

AnaMar (pseudónimo) disse...

Um poema belíssimo, mas que (me) dói.
Porque eu desfiz um laço...

Bjs

~pi disse...

crescer a doer

doer>crescer>ser


[ bem-vindo a passages,





~

o Reverso disse...

sem nunca compreender se o erotismo é caminho para o inferno ou para o céu. porque ninguém sabe e ninguém pode ensinar.

AnaMar (pseudónimo) disse...

Espero por palavras novas.
Fazem-me falta.
As tuas.
Bj

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Arritmias

Onde tudo se pode ler do fim para o céu e do topo para a terra