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Estamos


Não há palavras, é tudo directamente proporcional ao espaço e tempo que dispomos para cada um de nós.
Indirecto: Podías dizer-me se TU queres dizer saudade. Pede-lhe que te dê o recado [a ti]
Indirecto: Já não falo, cansei o silêncio e desaprendi algumas palavras
[a ti]

Sempre fomos assentos abandonados, daqueles frios e sem marca de corpo.
Mudos
Não houve discurso de inauguração ao beijo, à mão, ao puxar da cadeira para perto um do outro.
Tu estavas. Eu estava.
E era como se nada tivesse acontecido.
Talvez tivessemos partido antes de chegar e ocupar os lugares vazios e fazer nossos os assentos.
[ Os acentos: dÁ-me a tua boca]

Discurso indirecto: Pergunta a ti se tu queres dizer alguma coisa em que o acento faça parte da intenção do coração [Onde fica o coração? E a boca? E as palavras espalhadas que deixamos de propósito tombar e ficarem por ali aos nossos pés, por vezes tão embaraçosamente chutadas ou arrastadas no sapato?]
Discurso indirecto: Amanhã diz a ti para não vires. [é mais verdade]

As cadeiras mais bem fabricadas lembram-me sempre tu e eu. Os dois belissimos. Os dois incapacitados para dizer.
E no entanto, o silêncio sempre ocupou mais espaço que nós os dois juntos, sería possível que não tivessemos reparado como de repente tudo se tornou acanhado?
Um dia não viemos, não voltámos, limitámo-nos a olhar os assentos vagos de um discurso [in]directo [in]conexo à espera de alguém que se lembrasse de como se dizía.
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ecg
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