As mãos eram a venda e as palavras cosidas nos lábios um silêncio dormente. Não eram palavras mortas das que se dizem para encher o espaço de ecos na esperança de que o momento passe sem feridas ou se suavize a dor do confronto na panaceia do som certo.
As palavras eram a venda e as mãos objectos que se expõem para esconder a má pintura ou o estuque do rosto edificado a descascar numa corrosão de sentidos.
Não sei se falaste com as mãos ou se te resguardaste nas palavras.
Só sei que à medida que o tempo imprimiu velocidade às memórias achei-me num sitio escondido por já não existir o presente e eu agora cego, quería ver [-TE]. Foi quando senti esmagado pelas palavras a caricia das tuas mãos nos meus lábios.
Abri os olhos. Corajosamente. Preparado para o choque e feliz de o sentir. As mãos fechadas atingiram-me no olhar e finalmente derramei as palavras que esperaste.
Faltaste tu para as ouvir.
ecg
3 comentários:
Volto uma e outra vez, atentar que este(o teu) coração não páre.
Mas escrevo para não sei que olhos, tentando que as palavras reanimem este espaço.
Espero que estejas bem.
Bj de saudade
difícil
espanto
"é mais cego aquele que não quer ver que aquele que apesar de cego usa óculos para filmes 3D."*
*Anastácio Braille.
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Edmundo,
deixa-me dizer-te que respeito os teus sentimentos. Melhor, a tua dor pela ausência pressentida, de quem não te quis beber as palavras saidas das órbitas com olhos de querer ver.
Um dia - já lá vão uns bons anos, passou-se quase o mesmo comigo. Uma mulher - era linda! como um cego pode imaginar a beleza - fez-me acreditar no amor. Não foram precisas palavras, chegavam-me os gestos. Meus e os dela. Doido de paixão, abri a guarda e quando dei por mim, o meu cão-guia já era...
Quase se pode dizer que somos irmãos no infortúnio: perdemos de vista o amor ou o amor não nos quer ver.
E se fizéssemos uma vaquinha e fôssemos vender lotaria no Rossio?
Abraço do Legível Curto de Vista.
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