Até 220vv o coração aguenta

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discurso indirecto

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Sempre fomos um lugar vago um do outro. O outro a ocupar vazios nas palavras não ditas. Presenças. Sentamo-nos. Não ocupamos territórios nem somos invasores na lingua.

Estamos


Cingimo-nos à etiqueta, falemos do tempo. Mas nada de sol, esse é quinhão ganho no espaço ocupado à esquerda, dizem [O CORAÇÃO]. Nós não sabemos o que é isso, para nada nos serve a orientação das cadeiras se os olhos estão nas costas e as espáduas dormentam-se da imobilidade.





Não há palavras, é tudo directamente proporcional ao espaço e tempo que dispomos para cada um de nós.



Indirecto: Podías dizer-me se TU queres dizer saudade. Pede-lhe que te dê o recado [a ti]

Indirecto: Já não falo, cansei o silêncio e desaprendi algumas palavras

[a ti]






Sempre fomos assentos abandonados, daqueles frios e sem marca de corpo.



Mudos



Não houve discurso de inauguração ao beijo, à mão, ao puxar da cadeira para perto um do outro.



Tu estavas. Eu estava.



E era como se nada tivesse acontecido.



Talvez tivessemos partido antes de chegar e ocupar os lugares vazios e fazer nossos os assentos.



[ Os acentos: dÁ-me a tua boca]





Discurso indirecto: Pergunta a ti se tu queres dizer alguma coisa em que o acento faça parte da intenção do coração [Onde fica o coração? E a boca? E as palavras espalhadas que deixamos de propósito tombar e ficarem por ali aos nossos pés, por vezes tão embaraçosamente chutadas ou arrastadas no sapato?]

Discurso indirecto: Amanhã diz a ti para não vires. [é mais verdade]





As cadeiras mais bem fabricadas lembram-me sempre tu e eu. Os dois belissimos. Os dois incapacitados para dizer.

E no entanto, o silêncio sempre ocupou mais espaço que nós os dois juntos, sería possível que não tivessemos reparado como de repente tudo se tornou acanhado?



Um dia não viemos, não voltámos, limitámo-nos a olhar os assentos vagos de um discurso [in]directo [in]conexo à espera de alguém que se lembrasse de como se dizía.
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ecg
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Arritmias

Onde tudo se pode ler do fim para o céu e do topo para a terra